Quanto pesa 1 kg de carne


Não é novidade que a criação de animais para consumo é umas das
grandes causas da devastação do planeta, mas preciso admitir que
eu não fazia ideia da gravidade do problema.

Provavelmente, você também não, então vale ler alguns dos dados
surreais que eu vi na cartilha da Sociedade Vegetariana Brasileira:

- O Brasil tem praticamente uma cabeça de gado para cada habitante
do país. Um único boizinho aqui precisa de nada menos que 10 mil m²
para engordar. Por causa do sistema extensivo, calcula-se que a
pecuária seja culpada por 80% da devastação da amazônia já
ocupando quase UM TERÇO do território nacional!

Por favor alguém me fala que isso é mentira! Tô em choque!



- De cada 10 litros de água doce usados no mundo, 7 são gastos na
agricultura. Até aí ok, mas quem imaginava que mais da metade da
produção agrícola do mundo serve para alimentar animais?!
Choque de novo. Mais absurdo ainda é o fato de toda essa carne
produzida não ser acessível a sequer 15% da população.

- Enquanto 1 kg de soja significa o gasto de 500 litros de água, 1 kg
de carne de boi significa 15 mil litros. Em outras palavras, gasta-se
30 vezes mais. A tabela abaixo faz comparações semelhantes:



- Impossível falar num post sobre todas as outras consequências:
eliminação de florestas, destruição da biodiversidade,
empobrecimento do solo, erosão, consequente desertificação,
poluição do ar - pelas queimadas e pelo famoso pum bovino! -
poluição da água, eutrofização, contaminação, chuva ácida..

Sem contar que a pecuária expulsa inúmeras comunidades
indígenas de suas terras, além de ser responsável por pelo
menos 60% da mão de obra escrava que ainda existe no Brasil.



Fonte SVB

A criação de porcos, carneiros e o que mais você imaginar também
tem consequências desastrosas, e não seja ingênuo de pensar que
comer frango ou peixe é pura sustentabilidade.
Seguem mais algumas informações:

- A criação de peixes é a principal causa da eliminação dos
manguezais que, além de importantíssimos na proteção contra
inundações e tempestades, abrigam uma enorme riqueza em
biodiversidade. A taxa de destruição dos mangues inclusive já é
maior que a das florestas tropicais.

- Em outros métodos de pesca, para cada quilo de camarão capturado
chegam a sobrar até 20 kg de organismos que são capturados ao
acaso, mortos inutilmente e enfim devolvidos ao mar.

- Em inúmeros casos, o imediatismo da pesca põe no mercado
peixes muito jovens que nem tiveram a chance de se reproduzir.
O resultado é um sério impacto no ciclo de vida e até na própria
sobrevivência dessas espécies.

- Ainda hoje são praticadas técnicas de pesca absurdas pelo
mundo todo como o arrastão, que consiste em uma rede de aço
ligada a cilindros de concreto que varrem tudo que houver pela
frente, além do uso de dinamite - !!! - que provoca, óbvio,
destruição em massa, inclusive de bancos de corais milenares.

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Eu já fiquei sem comer animal de nenhum tipo por 4 meses.
Até posso dizer que fiz um certo sacrifício mas não teve jeito:
chegou um dia em que eu senti um cheirinho de picanha e ainda
pensei duas vezes, mas acabei decidindo me atirar aos pecados
da carne.

Voltei aos hábitos antigos num estalo de dedos como se
nada tivesse acontecido. De lá pra cá perdi a conta das vezes que
devorei uma barca de sushi entoando o mantra 'peixe é legume'
para me sentir menos culpada. Em outras palavras, não tô aqui
pra dar exemplo. Não tenho orgulho disso, mas como até coração
de galinha.

Ainda assim, acho que posso falar de um ponto importante em
qualquer assunto: equilíbrio. Se (ainda) não podemos resistir,
a solução é reduzir. Além de ser muito mais fácil do que parece,
só tem consequência positiva.

Há um tempo eu venho controlando meu consumo de carne e
percebi que não preciso dela no meu prato mais que 4 vezes
na semana. Isso significa que se eu como 3 vezes por dia, 7 dias
na semana, das 21 refeições que eu faço, 80% são vegetarianas.
E isso - eu juro! - sem qualquer tipo de sacrifício, simplesmente
porque eu percebi o meu equilíbrio. Com o tempo, pretendo
chegar a 100%, mas calma, vamos num passo de cada vez
porque forçar a barra agora significa comprometer os resultados
a longo prazo.

Ainda que todos os restaurantes continuem criando menus
organizados pelos tipos de carne e tratando o resto das comidas
como simples acompanhamentos, podemos reconfigurar alguns
padrões, por exemplo, percebendo que o melhor de um churrasco
é beber cerveja e bater papo com os amigos. Milho, batata e
abobrinha no espeto podem parecer uma mudança ínfima, mas
é assim, aos poucos, que se altera velhos costumes.

Se você também é do time que foi criado comendo carne todo
dia e tem isso como hábito até hoje, é bem provável que seja
difícil abrir mão de tudo de uma hora pra outra, por mais que
você tenha consciência.

Aquela história de que o coração não sente o que os olhos não
vêem se comprova com a maioria das pessoas que eu conheço. A
gente até sabe, mas com o tempo acaba se esquecendo dos
números exorbitantes e da destruição do planeta, isso sem falar
do quanto esses animais sofrem com a crueldade dos processos.

Iniciativas como o Meet Free Mondays e o Dia sem Carne no
Brasil estão aí para provar que aos poucos a gente consegue
grandes mudanças.

Nada mais pessoal que decidir o que comer. De qualquer maneira,
eu realmente acredito que quanto mais informação a gente tem,
mais fácil fica fazer escolhas e tomar a decisão correta. Já
ouvi muita gente defendendo que a ignorância é uma benção, mas
eu prefiro a opção consciente. É aquela mesma história do Matrix,
sabe? Por mais difícil que seja, eu sempre tive certeza que
escolheria a pílula vermelha.


*Esse post teve a colaboração especialíssima da @marianagogu
e da @giubianconi que me mandaram links muito valiosos.
obrigada, garotas! <3

Debaixo d'água


O governo é o principal culpado pelas enchentes que acontecem nas
grandes cidades blábláblá e todo mundo tá ciente disso. O que falta
entender é que todo mundo também tem uma parcela de culpa e que
velhos hábitos, se não forem corrigidos, vão continuar contribuindo
para novas instalações do caos.



Ilustração de Guy Billout


Então vamos logo à prática: além de votar, o que mais a gente
pode fazer? Seguem sugestões acompanhadas de algumas
breves e necessárias reflexões:

1) Separar seu lixo.

Tá bom, eu tô repetitiva. Acontece que as consequências dessa
ação são tantas - principalmente quando imaginamos o impacto
que uma população inteira é capaz - que ela sempre aparece
como peça-chave da solução.

Separar o lixo deveria - e eu acho de verdade que daqui a um
tempo será - uma ação tão automática e óbvia que a gente vai
olhar pra trás e se perguntar completamente indignados 'como 
assim eu jogava lata de atum e casca de abacaxi no 
mesmo lixo?!', mais ou menos do mesmo jeito que eu fico 
indignada quando me lembro que até pouquíssimo tempo atrás 
uma pessoa podia fumar um cigarro em pleno avião
separada de você por menos de 30 centímetros!


2) Não jogar lixo nas ruas.

Nisso já melhoramos um monte, mas eu ainda me impressiono
com o tanto de gente que acredita que a bituca do cigarro
quando cai no chão sublima! A gente tá acostumado a ver lixo
entupindo as bocas de lobo em todo canto, entulho sendo
despejado de forma ilegal e sabe bem que uma quantidade
enorme de materiais diversos estão obstruindo canais e 
galerias. Essa matéria do Estadão conta que 364 mil toneladas
de lixo e areia prejudicam o curso normal do Tietê.


3) Questionar a necessidade de um carro.

Olha só, eu não sou radical. Não acho que os carros são o fim
do mundo mas quando olho para o trânsito de São Paulo tenho
certeza que a falta de bom senso é. Uma coisa é ter carro e
usar com moderação pra viajar no fim de semana ou levar a
namorada pra jantar. Outra é gastar duas horas no trânsito no
fim de cada dia. A solução depende de cada caso.

No meu, por exemplo, foi começar a voltar pra casa a pé. Para
minha surpresa, descobri que eu gasto exatamente o mesmo 
tempo que o ônibus, além de umas calorias. Tudo muito depende 
de onde você mora e trabalha, mas é certo que sempre existe uma 
alternativa. Senão ônibus e metrô, servem as pernocas ou até 
carona do colega de trabalho. Quem sabe dividir a gasolina?

Pode-se sim ter um carro, mas quando eu digo um é um mesmo.
Um por casal ou um por família, porque não tem nada mais sem
noção que família classe média com 4 pessoas e 4 carros, todo
mundo saindo de manhã pro trabalho e faculdade, cada um no 
seu. Eu posso criticar à vontade porque há alguns anos era
exatamente assim a minha vida na casa dos meus pais. Lembro
do belo dia que minha mãe se deu conta que ela economizaria rios
de dinheiro se tivesse só um carro em casa (imagina quanto custa 
gasolina, seguro, ipva e manutenção..) e contratasse um motorista. 
Nem comento a alegria de não ter que procurar vaga e aguentar 
flanelinha. Fica a dica.

Outra coisa que eu sempre me lembro é do comentário de um amigo
sobre usar carro pra trabalhar: 'Neguinho gasta combustível para
mover uma máquina de mais de uma tonelada para transportar
uma pessoa de 70 kg.' Imbecíl, gente. Não tem outra definição.

O problema do carro ainda vai muito mais longe quando pensamos
no quanto as cidades vêm sendo impermeabilizadas. Tacam
asfalto por cima de tudo e acham que não vai ter problema lá na
frente. Aí vem a população insandecida, que continua escrava das
concessionárias, pagando as trocentas prestações do carro e o
governo chega pra completar o cenário de horror gastando todo
o dinheiro que iria pro transporte público na ampliação do
número de faixas nas avenidas.

Engraçado como essas questões de sustentabilidade estão todas
interligadas. Eu comecei o post pra falar sobre lixo e enchentes e
acabei desabafando sobre essa dinâmica bizarra dos carros que
parece ser invisível pra todo mundo e impossível de se controlar.
Encontrar a solução é tarefa bem complexa mas um início é lembrar
que dentro de cada carro existe uma pessoa que pensa. Falta só
alguém dar um toque para que ela comece a pensar melhor.

Compromisso


"Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo. Na verdade, é só isso que o tem mudado." Margaret Mead

Lixeira Viva


Você leu o post sobre os trituradores e viu que jogar resto de
comida na rede de esgoto nem pensar. Também tá careca de
saber que mandar tudo pro aterro não é nem de longe a melhor
saída. Aí você me pergunta: 'Que solução eu tenho então para
dar fim ao meu lixo orgânico?' Eu te conto com todos os 
detalhes e já adianto que não é nojento e nem dá trabalho! Você 
só precisa chegar ao fim desse post para perceber como vale a 
pena e faz todo o sentido do mundo.

Tudo que a gente precisa é de uma composteira doméstica,
que nada mais é que 3 caixas de plástico empilhadas. Elas
ocupam pouco espaço, não cheiram mal e são capazes de
transformar todo o seu lixo orgânico em um adubo rico
que você vai usar na horta e nos vasos de casa.



Funciona assim:

1) A primeira caixa, que fica no chão, é vazia e tem a função
de recolher tanto o excesso de umidade quanto um 
biofertilizante líquido muito nutritivo para as plantas.

2) A segunda, do meio, é onde será depositada a terra e
os resíduos orgânicos. Ela contém húmus e minhocas..
Minhocas?! Aaargh! Que uó! Como assim vou ter que
conviver com um monte de vermes? Calma, eu tive essa mesma
reação histérica mas em pouquíssimo tempo me dei conta que
minhocas, apesar de meio bem nojentas, são inofensivas e vão
ficar o tempo todo quietas e contentes, fechadinhas numa caixa
de plástico.

3) A terceira e última caixa, acima das outras duas, também
contém terra e recebe o lixo orgânico.

O processo começa na caixa do meio, onde a primeira leva de
resíduos deve ser depositada. As minhocas vivem aí por um
tempo transformando seu lixo em húmus. Quando essa
caixa fica cheia é hora de começar a depositar a matéria
orgânica na caixa de cima.

As caixas têm vários furinhos no fundo e em pouco tempo,
todas as minhocas migram para a caixa superior atraídas pelos
novos alimentos. Aí é só você retirar o humus da caixa do meio
e passá-la para cima. A caixa que estava no topo desce e o
processo se reinicia.

A primeira caixa fica sempre no chão, recolhendo o biofertilizante
também conhecido como chorume do bem. Não tenha medo desse
nome. A composteira tem cheiro de terra molhada.

Essa ilustração do Planeta Sustentável te ajuda a entender a
estrutura das caixas:



Ainda parece complicado? A Folha tem um material completinho.

Pra não sobrar dúvida é só assistir à explicação da Minhocasa:



Viu como nem ocupa espaço? É lindo!

Se você, assim como eu, ficou super animado e não vê a hora de ter
minhocas em casa, só falta então decidir se quer montar sua própria
composteira ou prefere comprar uma pronta. Eu tenho a sorte de
morar com uma amiga total do it yourself então é muito provável
que a gente monte a nossa em breve. Um mega passo-a-passo
detalhado vai virar post, é claro!

Tá morrendo de ansiedade e não aguenta esperar? Recomendo
então este tutorial feito pela Paula Signorini, do Rastro de Carbono.
Ela dá mais outras dicas valiosas neste post.

Para quem não tem esse tipo de talento ou não tá lá com muita
paciência, existem algumas opções no mercado. O preço varia
entre 200 e 300 reais, dependendo do tamanho que você precisa.
Clica para saber mais:

- Minhocasa
- Composteira
- Morada da Floresta

Se você ainda não se convenceu, vale dizer que o Brasil produz
cerca de 144 mil toneladas de lixo orgânico TODO DIA. Se esse
material virasse comida de minhoca, além de evitar toda a sujeira
e contaminação provocada pelos aterros, teríamos nada menos
que 86 mil toneladas de adubo natural.

Cuidar desses resíduos orgânicos é contribuir com um ciclo
perfeito da natureza. No fundo, é simples assim: você deixa de
fabricar lixo e passa a alimentar minhocas. Em troca, as bichinhas
te presenteiam com nutrientes para sua horta e o ciclo recomeça.